Uma História,
Muitas Memórias

Parte 2

O Internato

Anos intermediários (1970 - 1996)

A quadra coberta do Instituto estava cheia na manhã daquele 6 de setembro de 1970. A banda da escola havia tocado o Hino Nacional durante o hasteamento da bandeira do Brasil. Estavam presentes, ouvindo o discurso de abertura do paraninfo Thomaz Cruz, não apenas os 340 alunos expositores, mas ainda os visitantes — alunos não expositores, pais e mães, professores, repórteres e outros —, o prefeito de Mairiporã, Luiz Salomão Chamma, e o vereador Reginaldo Rogero, que presidiria a Câmara Municipal de Mairiporã em 1971.

 

“Educação é investimento e a melhor aplicação que pode fazer a empresa para valorizar o homem que vive no regime da livre iniciativa”, declarou o paraninfo na ocasião. Estava inaugurada a I Feira de Ciências do Instituto Mairiporã.

 

Diversas bancadas estavam espalhadas pela quadra coberta, onde os grupos apresentavam seus trabalhos. Numa delas, peixes, borboletas e aranhas eram mantidos em condições diferentes de luz, temperatura e gás para testar suas capacidades de adaptação e denunciar a poluição das grandes cidades. Em outra, eram expostas placas que mostravam os choques de raios cósmicos com os átomos do ar, elaboradas pelo cientista brasileiro César Lattes, enquanto um aluno explicava a teoria da “bola de fogo” do mesmo. Outro trabalho consistia em apresentar um ovo sendo colocado dentro de um litro de leite, para demonstrar como a pressão física funcionava. Havia ainda bancadas com “testes psicológicos e genéticos, pesquisas com bactérias úteis” e “noções de higiene e saúde pública”, como detalha um repórter não identificado do Correio da Manhã (RJ) presente no evento.

 

Os alunos vinham de 12 escolas de Mairiporã, São Paulo, Campinas, Grande ABC, Osasco e Sorocaba, todas no estado de São Paulo, e se hospedavam em barracas ao redor do campo e nas ruas próximas à quadra coberta. “A gente enviava convites para escolas de todo o Brasil”, recorda João Evangelista, então secretário de Thomaz Cruz, acrescentando que, em edições posteriores, o evento chegaria a receber escolas até de Porto Alegre (RS) e São Luís (MA).

 

Após o sucesso da 1ª edição, a Feira de Ciências — a “menina dos olhos” do mantenedor da escola — continuaria a ser promovida todos os anos sem exceção até 2018, totalizando 49 edições. Além das diversas escolas participantes, a Feira traria uma série de figuras influentes da sociedade brasileira como paraninfos nos anos seguintes. Estão incluídos na lista o general Humberto de Sousa Melo, comandante da II Divisão do Exército Brasileiro (1971); a profª Esther de Figueiredo Ferraz, Secretária da Educação do estado de São Paulo (1972); o dr. Mário Machado de Lemos, Ministro da Saúde do Brasil (1973); Laudo Natel, governador do estado de São Paulo (1974); Itamar Jorge Bopp Jr, representando o dr. José Bonifácio Coutinho Nogueira, Secretário da Educação do estado de São Paulo (1975); Hasso Weiszflog, diretor superintendente da empresa Cia. Melhoramentos (1976); e Moacyr Sipaúba da Rocha, então presidente do Tribunal de Justiça do estado do Maranhão (1977).


Não foi apenas a Feira de Ciências, no entanto, que ajudou o Instituto Mairiporã a se tornar uma das escolas mais influentes da região na época. Pelo contrário: foi o andamento da escola que possibilitou o sucesso do evento.

Fotos retiradas na 1ª Feira de Ciências, em setembro de 1970, e veiculadas no jornal Correio da Manhã (RJ). — Autoria desconhecida.

Departamentos e atividades

Voltemos ao ano de 1970. Naquele ano o ritmo era surpreendente no Instituto. Dos 250 alunos da escola, 170 eram filhos de funcionários do Instituto e de operários de empresas do Thomaz Cruz espalhadas pelo Brasil, em estados como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Pernambuco, em regime de internato gratuito.

 

Um quadro exposto na secretaria anunciava “O sino comanda o horário”. Como as aulas já não eram mais em horário integral, e sim apenas à tarde, a rotina agora era diferente. Às 6h ou 6h30, os alunos despertavam ao soar de um sino de fábrica, arrumavam a cama e se arrumavam. Às 7h, se alinhavam no refeitório em filas para o café da manhã, com meninas de um lado e meninos de outro; cada fila era organizada por idade, das crianças mais velhas às mais novas. A comida incluía pão com manteiga e café com leite.

 

Após o café, cada aluno executava uma tarefa designada para si, de acordo com uma escala de trabalho. Entre as tarefas, estavam lavar louça (uns iam pros copos, outros pros pratos e outros, pros talheres), lavar roupas, tirar pó, limpar escadas e corrimões e limpar o chão. Cada equipe exercia um trabalho sob orientação de um monitor ou monitora. Quando alguém já estava familiarizado com uma tarefa, era designado para outra.

 

Em torno das 8h, feitas as tarefas, os alunos descansavam. Alguns iam brincar, estudar, praticar esportes ou ficar olhando o céu, e havia até mesmo quem costumasse namorar nesse horário — mas com muita cautela, pois era proibido.

 

Às 9h, uma merenda era servida, e depois disso alguns iam para a sala de estudos ou pra biblioteca, e outros praticavam atividades extraclasses. Havia oficinas de marcenaria, mecânica e eletrônica, aulas de teatro, música, agricultura e boxe, além de atividades num laboratório fotográfico e numa sala de artes industriais.

 

O sinal batia novamente às 11h, e às 11h30, era hora do almoço. O cardápio incluía arroz, feijão, frango, almôndegas, peru, carne de vaca, carne de cabrito, berinjela frita, verduras produzidas na horta comunitária da escola e suco. As aulas começavam às 13h, quando os alunos externos chegavam. Um intervalo para o lanche era feito às 15h e depois disso as aulas seguiam até 17h.

 

Dado esse horário, os alunos externos iam embora e os internos e semi-internos voltavam para os quartos. A janta era às 18h30 — com a apresentação do Jornal Alvorada e a oração. Se os alunos famintos apressassem a oração, aliás, podia ser que os professores presentes exigissem a sua repetição, num ritmo adequado. Depois da janta, esportes, recreação ou estudos pra quem quisesse. Das 20h às 21h, quem tinha boas notas podia assistir televisão. A exceção era quando passavam os jogos de futebol, que podiam ser vistos por todos. Em torno das 21h-22h, era hora de dormir.

 

Aos sábados, além das atividades livres pela propriedade já presentes nos primeiros anos, agora havia sessões de cinema também. Aos domingos, o padre Orlando rezava missa e oferecia comunhão aos que quisessem, e o café da manhã podia ter chocolate, laranja e leite com nescau.

 

No vaivém da rotina, as atividades em uma série de departamentos do Instituto eram estimuladas. Havia o Departamento Agrícola, onde alunos interessados recebiam um lote de terra e podiam plantar, sob orientação de um agrônomo, coisas como cenoura, beterraba, couve, alface, abobrinha, batata, feijão, salsinha, rabanete, cebolinha, entre outros, e vender tanto para o refeitório da escola quanto para comerciantes locais. Se o aluno, no entanto, resolvesse contrariar a orientação do agrônomo responsável, ninguém buscava impedir. “Mesmo que o resultado seja desastroso, não importa”, comentou Thomaz Cruz em 1970, para o repórter que cobriu a I Feira de Ciências. “O erro ensina mais que o acerto.”

 

Os alunos eram incentivados a produzir e vender outras mercadorias além do hortifruti: brinquedos, bordados, cerâmicas, sacolas, trabalhos em madeira, arranjos de flores e pinturas estavam entre os produtos que eram feitos no tempo livre, sobre os quais quem vendia levava uma porcentagem das vendas. Era necessário, inclusive, pagar imposto de renda sobre os lucros, para que o vendedor já se acostumasse para o futuro.

 

Falando em dinheiro e impostos, havia também um banco na escola, o Banco da Valorização do Trabalho, no qual todos os alunos possuíam conta corrente. Os alunos mais pobres, inclusive, recebiam uma quantia do mantenedor da escola para abrirem suas contas, e era possível pedir empréstimos também. Muitos pediam para comprar coisas como enxada e sementes, para a horta, e materiais escolares, e não havia pressão para o pagamento a curto prazo. O slogan impresso nos cheques do banco era “A livre iniciativa gera riquezas que engrandecem nossa Pátria.”

 

Outro departamento da escola era a Câmara de Representantes, uma espécie de reprodução estudantil das câmaras legislativas. Os “representantes” — os mesmos monitores e monitoras dos quartos e salas de aula que orientavam os alunos nas tarefas diárias — se reuniam todo sábado de manhã, para discutir pautas como normas de conduta, festividades e detalhes da vida diária da escola. Thomaz Cruz costumava frequentar essas reuniões, inclusive. Na segunda-feira à noite, os monitores e sub-monitores repassavam o que foi discutido aos grupos que orientavam.

 

Em resumo, assim era a vida de um aluno do Instituto Mairiporã na época.

Foto panorâmica retratando as ruas do Instituto Mairiporã. Publicada na Tribuna de Mairiporã, 14 de outubro de 1977.

O trem, o hino e o avião

Conforme a escola — que até 1981 seria a única particular de Mairiporã — se estabelecia na cidade, o seu fundador também se enraizava por lá. Em agosto ou setembro de 1972, Thomaz recebeu um título honorífico de cidadão mairiporanense, outorgado pelo presidente da Câmara Municipal, João Nicolau Chamma Neto. A cerimônia foi sediada no próprio salão nobre do Instituto Mairiporã e contou com a presença do prefeito, Luiz Salomão Chamma, alunos e funcionários da escola, amigos e familiares do empresário, incluindo a esposa Elyseth Leite Cruz e a mãe Zuleika Melo Cruz, além de pessoas influentes da região.

 

Os discursos da cerimônia foram feitos pelo vereador Aristeu Caetano, o poeta Salomão Jorge, o poeta Dalmo Florence e outros. Após a entrega do título, inscrito numa espécie de diploma, um almoço foi oferecido aos presentes.

 

Durante a 3ª edição da Feira de Ciências, nos dias 21 e 22 de outubro daquele ano, a primeira locomotiva do Instituto Mairiporã, datada de julho de 1906 e construída pela empresa Baldwin Locomotive Works, foi inaugurada pelo maquinista Seu Valdomiro. Sua linha foi construída na parte de cima da propriedade, subindo à esquerda do Prédio Verde. Inicialmente ela estava programada para fazer um “oito” contornando a pedreira ao final da propriedade, mas como a obra foi interrompida por problemas ambientais, o trilho ficou pela metade. A solução, para que o trem ainda pudesse ser usado, foi fazer um trajeto de ida e volta naqueles 300 metros de trilho.

 

A década de 70 vinha sendo definitiva para fortalecer o laço do Instituto. Em 1973, a escola ganhava o seu hino. Um dos poetas que discursou na cerimônia do título de cidadão mairiporanense de Thomaz Cruz, o Dalmo Florence, era uma figura muito apreciada pelos jornais da época. Florence era um mineiro, nascido em Ouro Fino (MG) que havia estudado Direito na USP e virado delegado, e era conhecido por seu jeito boêmio e por viver intensamente. Durante aqueles anos, dificilmente se abria uma edição do Jornal de Mairiporã, por exemplo, sem encontrar um poema seu. Em 12 maio de 1973, o poeta de 46 anos publicou um poema intitulado “Hino ao Instituto Tomaz Cruz”, que, após sofrer algumas alterações, ganharia melodia através do compositor Pedro Salgado e viraria enfim o hino do IM. O poema original, escrito em 9 de maio, é assim:

 

 

“Seja o saber esperança,

no coração resoluto,

havendo em cada criança,

um cidadão no Instituto!

 

 

Um cidadão, mas, leal,

e que à Pátria empreste luz,

na fraternidade igual,

no Instituto Tomaz Cruz!

 

 

Cada ser indiferente,

na alegria do porvir,

tendo sempre à sua frente,

ao Brasil amar, servir!

 

 

Iremos pela existência,

levando a nossa bandeira,

mais alta pela Ciência,

na Serra da Mantiqueira!

 

 

Cada ser independente,

na alegria do porvir,

tendo sempre à sua frente,

ao Brasil amar, servir!”

 

 

Em torno dessa época, um avião estava programado para ser doado ao Instituto Mairiporã, através do Ministério da Aeronáutica. Quando um funcionário da Redimix (uma das empresas de Thomaz Cruz) chegou em Fortaleza (CE) para buscar o avião, não quis, pois estava amassado. Escolheu outro — o avião Lockheed Martin AT33A, também conhecido como T-Bird, localizado na propriedade até hoje — e levou. Quando Thomaz Cruz ligou para o Ministério, descobriu o engano: acontece que o tal do avião amassado tinha uma relevância histórica, pois era onde o ditador Castello Branco havia sofrido um acidente que o levaria à morte pouco tempo depois, em 15 de março de 1967.

 

A escola recebia não só poemas e antiguidades agora, mas também alunos de todos os tipos e lugares. Segundo relatos de entrevistados, estudaram lá, dividindo as salas e dormitórios com os filhos de funcionários da escola e de operários das Pedreiras, filhos de médicos, empresários e uma gerente da Volkswagen, e uma filha da cantora Zizi Possi, além de alunos italianos e japoneses. As pessoas se respeitavam “independente de serem pessoas pobres, bolsistas ou filhos de funcionários, sem distinção de raça ou cor”, lembra Antonio Carlos, estudante da escola entre 1974 e 1983. Já Fátima Brito, aluna do IM entre 1976 e 1983 e sobrinha de Thomaz Cruz, afirma que “tinha gente que tinha motorista particular e gente que nem podia pagar o transporte; gente com roupas mais caras e gente de chinelo. Ensinavam todo mundo a respeitar.”

 

Um aluno em especial chamou a atenção da imprensa em 1974. Era um indígena filho de uma mulher do povo Trumai com um homem do povo Kayabi, cuja adoção pelo indigenista Cláudio Villas-Bôas fora oficializada naquele ano. Seu nome era Tauarru, seu apelido era “Boizinho” e ele estava matriculado na 6ª série do Instituto Mairiporã.

 

“Ele gostava de sentar e ficar namorando a lua”, recorda João Evangelista Soares, “e quando ele começava, era difícil parar”. Tauarru declarou, em uma reportagem do Jornal do Brasil (RJ) que seria publicada em 11 de abril de 1974, que o Instituto era “mais gostoso do que nas escolas de São Paulo porque a gente tem muitos lugares para brincar e os meninos são ainda mais interessantes. Vou à cidade apenas nos fins de semana e porque sinto saudades do papai e do pessoal todo”, complementou.

Foto de Tauarru veiculada no Jornal do Brasil, em reportagem de 11 de abril de 1974. — Autoria da foto desconhecida.

Olimpíadas

Já em 1976, a primeira Olimpíada Intercolegial foi sediada na escola. Infelizmente, a única informação disponível sobre o evento, por hora, é que ele aconteceu nos dias 15 e 16 de maio daquele ano.

 

O que se sabe, no entanto, é sobre a segunda Olimpíada, de 1977: para a sua abertura, às 9h da manhã de 14 de maio, um sábado, um fogo simbólico foi carregado desde o dia anterior por diversos alunos em revezamento escoltados pela Polícia Federal. O fogo partiu do Museu do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, atravessou a rodovia Fernão Dias e finalmente parou no Largo do Rosário, na antiga rodoviária de Mairiporã — somando impressionantes 39 km. Em seguida, foi levado ao Instituto Mairiporã.

 

Estavam presentes na abertura, além do já assíduo frequentador Luiz Salomão Chamma, ainda prefeito da cidade, o presidente da Câmara Municipal Alexandre dos Santos Pinto, Satiko Shingai Matsushita, diretora da E.E.P.S.G. (Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau) de Mairiporã e Armando Pavanelli, diretor da E.E.P.G. (Escola Estadual de Primeiro Grau) de Mairiporã. Às 9h30, alunas da Escola de Educação Física da USP fizeram uma demonstração de ginástica rítmica na escola, e às 10h, as provas de Atletismo deram início à competição.

 

Competiram nessa Olimpíada 18 escolas: Instituto Mairiporã, E.E.P.S.G. de Mairiporã, E. E. Benedito F. Marques, E.E.P.G. de Mairiporã, todas da cidade, além de E. E. Dr. Octávio Mendes, Instituto de Educação Florence, Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, Colégio Jardim São Paulo, E. E. Dr. Alarico Silveira, Escola de Educação Física da Polícia Militar, Academia da Polícia Militar, E. E. Anhembi, Colégio São Bento, EMEF Professor Leão Machado, Colégio Nossa Senhora de Loreto, I. E. Beabá, E. E. Alexandre Von Humboldt e E.E.Dr. Miguel Vieira Ferreira, todas da capital paulista.

 

As modalidades, para atletas masculinos e femininas, foram Natação, Atletismo, Basquete (então chamado de “Bola ao Cesto”) e Vôlei, em competições distribuídas entre infantil e juvenil. O campeão geral do juvenil foi a E. E. Dr. Octávio Mendes, com 106 pontos, e o do infantil, o I. E. Florence, com 66 pontos. O Instituto ficou em 4º em ambas as categorias.

 

Com essa festividade entrando oficialmente no calendário, a conhecida rotina anual do Instituto Mairiporã — com Olimpíadas em maio e Feira de Ciências em outubro — estava finalmente formada. O calendário incluía também Festas Juninas, em junho ou julho, e participações nos desfiles municipais de 7 de setembro, onde participavam outras escolas da região.

 

No dia 20 de fevereiro de 1978, a escola, que já havia sediado a essa altura 8 Feiras de Ciências e 2 Olimpíadas, foi declarada Utilidade Pública da cidade de Mairiporã através da Lei Municipal nº 772.  No documento, os vereadores Reginaldo Rogero, José Roberto Melchiori e Aristeu Caetano defenderam achar “justo tal medida, pois com a declaração de Utilidade Pública o  referido Instituto terá mais condições de exigir do Poder Público.”

Alunos participam de um desfile de 7 de setembro em Mairiporã, em meados de 1977. — Foto: Susanna Völkerling

Algumas das professoras e professores dessa época eram, na área de humanas: a Dona Nair, de Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira), alta, corpulenta, de pele muito branca, cabelos castanhos claros e que costumava usar saia; a Dona Eliza, uma mulher oriental animada, magra, que usava calça jeans e com cabelos na altura do ombro, que cantou “João e Maria”, de Chico Buarque, para os alunos no dia em que faleceu num acidente de trânsito; a Dona Isabel, de História da América Latina, uma mulher bastante magra de pele parda, cabelos pretos cortados acima do ombro, olhos inquietos, lábios finos, baixinha e que tinha um posicionamento político de esquerda; Dona Lourdes, de Geografia, uma pessoa doce, séria, com cabelos levemente loiros e que usava blazers brancos para dar aulas; Dona Terezinha, de Literatura, de cabelos escuros que frequentemente usava amarrados e costumava usar avental, branca com a pele manchada de sol; Prof. Marcos, alto, com cabelos finos, lisos e compridos, olhos puxados e jeito divertido e jovial; Maria Inês, Ed. Artística, que se vestia de maneira sofisticada, bonita, magra e altura mediana; a Maria Ângela, uma profª geral da 2ª série; a Dona Eleni, prof geral da 3ª série, um amor de pessoa;a Dona Ana, de Inglês, que estava na escola desde a fundação, de pele clara, de olhos claros, nariz afunilado e fama de brava, que dormia com as meninas do Prédio Rosa; Adamares, de Educação Artística, branca e de porte médio; a Dona Cidinha, professora do pré, de pele clara, cabelos castanhos claros acima do ombro, baixa e bastante jovem; a Dona Magali, do pré, que usava um corte curto nos cabelos, algo incomum na época, com fama de boazinha e ligeiramente acima do peso; e a Dona Solange, alta, forte, de cabelos pretos que usava presos, de pele preta.

 

 

Professoras e professores de outras áreas envolviam a Dona Katsuko, Matemática, muito querida, japonesa, de maneiras doces e cabelos ligeiramente cacheados na altura do ombro; Prof. Marcos, alto, com cabelos finos, lisos e compridos, olhos puxados e jeito divertido e jovial; o Prof. Bob, de Química, um homem bastante calvo;  Prof Medina, Biologia, um “boliviano ou colombiano”, como recorda Fátima Brito, que tinha um cabelo preto levemente cacheado, olhos pequenos e pele morena; Dona Isabel, da Ed. Física, alta, forte, muito legal; Prof Joel, que dava aulas de Boxe, ligeiramente gordo, cabelo bem raspado, crespo, pele morena e olhos claros, e “era tipo um pai”; o Prof Marco Antonio, de Física, que é muito amigo dos alunos até hoje; a profª Maria José, de piano, uma senhora de aparência cansada, que morava em SP e dormia na escola quando ia dar aulas; a profª Marina, de balé, que faleceu em Ubatuba escorregando numa pedra.

 

Alguns dos funcionários e funcionárias eram a Dona Maria, diretora, de olhos verdes, grandes, arredondados, de cabelos loiros e cheios na altura do ombro e olhar firme, que costumava falar que “a disciplina enverga, mas não quebra”; Dona Luzia, da lavanderia, que assumia a cozinha aos domingos e fazia uma comida bem quista pelos alunos; a Dona Josefa, da lavanderia; a Dona Mariazinha, cozinheira; o seu Domingos, esposo dela, era jardineiro, cuidava do jardim e dos animais; a Raquel, monitora, cuidava dos internos; o Seu Joel, motorista, uma pessoa alegre, bacana; Seu Augusto, jardineiro que cuidava da floricultura e da horta, e enfeitava a escola, com traços indígenas, cabelo preto, humilde, que usava camisetas de manga curta; Seu Pedro, motorista, que tinha um bigode e dirigia micro-ônibus e kombi; Elizabete, loira, magra, de olhos claros, aparência de intelectual, que usava roupas folgadas e cabelos curtos; tesoureira; Ricardo Sakanaka, da secretaria; Ivanilde, trabalhava na secretaria; e a funcionária Jane, uma piauiense, baixinha, moreninha, gente boa.

 

Vale lembrar que grande parte do corpo docente e dos funcionários morava na propriedade da escola, em casas cedidas pelo seu mantenedor. A profª Magali, que entrou na escola em 13 de julho de 1976 — e viria a se tornar diretora da escola 3 décadas depois —, era, nesse ano, a única professora da escola que não morava por lá.

Uma multidão assiste a uma prova de natação durante a Olimpíada de 1980. — Foto retirada de matéria de 23 de maio de 1980, do veículo Tribuna de Mairiporã

Um anúncio veiculado no jornal Folha de S. Paulo em 07 de fevereiro de 1980 descrevia assim o Instituto Mairiporã: “Amplas e acolhedoras instalações em ambiente familiar de fino trato e respeito. Grande parque com imensos gramados e área verde natural. Conjunto recreativo e esportivo completo. Internato para ambos os sexos, com professores residentes. Idade: desde 2 anos até 16. CURSOS: Maternal, Pré-Primário, 1º e 2º Graus. Alto padrão de ensino e disciplina. Moderna orientação pedagógica e corpo docente especializado.”

 

Mas nem tudo eram flores.

 

Nos tempos de internato, um problema central nunca foi totalmente superado pelo Instituto Mairiporã: a saudade que os alunos sentiam dos pais. “Nos primeiros meses de adaptação, eu chorava copiosamente com saudades da mãe”, recorda Lucio de Paula Augusto, que estudou na escola entre 1975 e 1976. Ele chegou a chamar, inclusive, a profª Maria Ângela de mãe durante esse período. Quando isso acontecia, ela ria bondosamente, o que fazia com que ele se sentisse compreendido.

 

Edinaide Batista — filha de Denilse Batista, antiga aluna citada na primeira parte desta reportagem —, aluna entre 1979 e 1983, afirma que havia colegas com boas condições financeiras que eram “esquecidos” na escola frequentemente pelos pais; que os filhos de operários das Pedreiras viam os pais uma vez por mês, graças a um ônibus que deixava cada bolsista na sua cidade, e que filhos de quem possuía carro conseguiam ver os pais de 15 em 15 dias.

 

Um outro ponto negativo que alguns viam na escola era o seu excesso de rigidez. Muitas vezes as transgressões estudantis eram punidas com castigos físicos, como a palmatória. Além disso, havia uma forte vigilância por parte dos professores. “Eles queriam saber o que os alunos faziam o tempo todo, onde estavam”, conta Fátima.

 

Certa vez, em meados de 1980, uma aluna ficou grávida e foi impedida de conviver com seus colegas. “Só podia sair do Prédio Rosa pra ir pra aula, depois voltava. Ninguém se envolvia com ela”, lembra Edinaide. O pai da criança, no entanto, seguiu sua vida escolar normalmente. Quando Edinaide questionou a Dona Ana sobre esse tratamento desigual, a professora justificou dizendo que “Nós, mulheres, temos que nos guardar e dizer não pro homem.”

 

Em outra ocasião, um aluno foi pego fumando e levou um tapa do mantenedor da escola, Thomaz Cruz, e depois expulso.

 

Apesar da estrutura escolar repleta de proibições e punições, num Instituto Mairiporã cujo laço estava mais forte do que nunca, os alunos encontravam seus caminhos pelas brechas. Um costume já antigo dos mais velhos era dar escapadas noturnas para visitar o posto Texaco, em frente à propriedade da escola. “Eles ficavam de ressaca no dia seguinte”, lembra Lucio.

 

Outro caminho encontrado foi uma espécie de sistema de vigilância usado para namorar: alunos mais novos para ficar de guarda, enquanto os mais velhos namoravam em locais como atrás do Prédio Azul e no ginásio (a quadra coberta). Se alguém se aproximava, o aluno mais novo assobiava.

 

Outro costume que pode soar estranho hoje em dia, para leitoras e leitores mais novos, era o de alguns alunos, depois de certa idade, trabalharem na escola. O Antonio Carlos, por exemplo, foi auxiliar de secretaria por lá, enquanto a Cynthia foi auxiliar de sala e trabalhou na tesouraria durante seus anos escolares.

 

A vigília constante promovida pelos funcionários da escola também tinha motivos além de prevenir namoros escondidos. Mario Ferraz Araújo, diretor pedagógico da escola entre 1982 e 1997, recorda que era um desafio cuidar de alunos num espaço tão grande. Ele argumenta que os limites da escola “eram longínquos, dificultando a observância e controle de fluxo dos alunos que poderiam evadir sem serem observados; além disso, muitos espaços abertos e vazios possuíam perigos à integridade física dos alunos: barrancas e mata com animais peçonhentos eram  desses perigos que tínhamos de administrar.” “Entretanto”, explica, “raríssimas eram as transgressões disciplinares (cabulação de aulas, por exemplo) ou acidentes nos espaços abertos (picada de abelha, aranha, queda em barranco).”

Profª Katsuko, de Matemática, e mais dois alunos. — Data e autoria desconhecidos.

Durante os anos do Instituto Mairiporã como internato, os costumes, disciplinas e tradições iam e vinham num ritmo próprio da escola já plenamente desenvolvido. O tempo passava, as histórias eram colecionadas, alunos e professores entravam e saíam.

 

A escola estava em pleno crescimento na década de 1980. O número de alunos cresceu de 200 para 800 entre 1982 e 1987. Uma expressão comumente usada nas reuniões entre pais e professores era “Formamos a grande família do Instituto Mairiporã.”

 

“O campus do IM era ao mesmo tempo, desafiante e maravilhoso”, recorda o diretor Mario Araújo. “Incrustado na Serra da Cantareira, era uma mescla harmônica de Natureza e Arquitetura gigantescas, ímpares neste Brasil. Idealizado e construído pelo dr. Thomaz Melo Cruz, simulava uma pequena cidade, com avenidas asfaltadas em seu interior e prédios independentes, integrados pela gestão administrativa e pedagógica.”

 

A rotina ainda era a mesma: acordar, café, atividades e estudos, almoço, aula, jantar, atividades e estudos, dormir e começar de novo no dia seguinte. Às terças, toda a escola era reunida ao redor da Praça das Bandeiras antes das aulas para cantar o Hino Nacional e o Hino do Instituto Mairiporã. Aos sábados de manhã, o motorista Seu Orlando parava o micro-ônibus na frente da secretaria e os alunos eram levados para São Paulo, próximo ao Clube de Regatas Tietê, para que os seus pais os buscassem. As expectativas esportivas eram altas em maio, assim como as expectativas científico-estudantis em outubro.

 

As Olimpíadas já eram uma forte tradição da cidade de Mairiporã. Cada dia de competição chegava a reunir 5000 pessoas. As iniciais 4 modalidades agora costumavam ser 6: além de Natação, Atletismo, Basquete e Vôlei, Futebol de Campo e Judô foram acrescentados ao evento. Colégios como o Marista Arquidiocesano, Anglo-Latino, Instituto de Educação Florence, Salesiano Santa Terezinha e EEPG Dr. Alberto Cardoso Neto, além do próprio Instituto, marcavam presença entre os primeiros colocados do quadro geral.

 

As Feiras de Ciências foram remodeladas pela diretoria. Agora era obrigatória, para alunos a partir da 5ª série do Fundamental, a apresentação de um projeto de pesquisa relativo a cada trabalho. A Feira era dividida em Exatas, Humanas e Biológicas, e a Comissão Julgadora era composta por profissionais de cada uma dessas áreas. O evento durava 3 dias, ao invés de 2: o primeiro dia era designado à feira interna da escola, apenas para os alunos. O segundo, aos pais e visitantes, e o terceiro, à comunidade em geral. “Os critérios de avaliação partiam desde o projeto escrito até a organização do stand do projeto e o desempenho do grupo na apresentação pública”, conta Mario Araújo. Ao final, medalhas e troféus eram dados aos trabalhos com maior colocação.

 

As atividades que os alunos podiam cursar, a essa altura, eram marcenaria, dança, judô, basquetebol, voleibol, futebol de campo, handebol e natação. Alguns críticos do Instituto, inclusive, costumavam defender que ele era “mais clube do que escola.”

Alunos em frente à quadra coberta do Institito Mairiporã, com João do Pulo ao centro. Cerca de 1986. — Autoria desconhecida.

Tempos de abertura

Ao fim da década de 1980 e começo da década seguinte, o número de alunos internos e externos do Instituto Mairiporã era balanceado, diferente da preponderância de dois terços de internos de 1970.

 

A rigidez do Instituto começava a se abrandar, como parte de um movimento que acontecia pelo país inteiro. Fatores como a criação da Constituição de 1988, que contém em seu texto diretrizes de proteção à infância, e o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, que reforçou essas diretrizes, também influíram nessa mudança de mentalidade.

 

Quando o professor José “Zeca” Moreira chegou na escola, em 1 de junho de 1990, trouxe consigo essa nova mentalidade. Polivalente, tinha o Teatro como única disciplina fixa, e era substituto em diversas outras — Matemática, Português, Ciências Sociais, Ciências, Música, o que fosse preciso. Ele morava no Prédio Azul com os internos e os acompanhava durante o dia a dia.

 

Parte do seu trabalho era acordar os alunos. Incomodado com o sino de fábrica que soava para acordá-los, convenceu a diretoria a adotar um método mais suave: cerca de 10 minutos antes do horário, colocava uma fita ou disco de música para tocar, de compositores como Vangelis, Bach, Beethoven, Mozart e Tchaikovsky. Dado o horário, abria a janela e batia no ombro dos que ainda dormiam.

 

Já no Prédio Rosa, no entanto, a encarregada da tarefa possuía a incômoda mania de puxar os cabelinhos da nuca das meninas para acordá-las.

 

Esse espírito de mudança também foi manifestado por Rosely Lenci Araújo, coordenadora pedagógica da escola contratada em 1988 e que ocuparia o cargo até 1997. Rosely era  diretora de uma escola em São Paulo antes de vir trabalhar ao lado do diretor Mario, seu marido.

 

A coordenadora costumava comentar: “O professor se comporta na sala como um palhaço no picadeiro. Este faz a plateia rir; aquele faz com que os ouvintes se interessem pelo conteúdo e gostem daquilo.” A frase não era da boca pra fora: por volta de 1993, ela pôs em prática um projeto que buscava exatamente isso. Tratava-se da elaboração de uma série de apostilas inéditas para as crianças da escola. A partir de conversas com o corpo docente, o conteúdo das apostilas, endereçadas a alunos dos Jardins I, II e III e pré, era decidido. Durante o período da tarde, que demandava menos trabalho, ela, a sua assistente Magali Tamborelli e a profª Selma passaram a elaborar o material, todo manuscrito. Selma, aliás, era a designer das apostilas, pois “desenhava maravilhosamente bem.” “Era uma coisa muito bonita, com desenhos floridos”, recorda Rosely.

 

A diretora administrativa Dona Maria Aparecida entrava na terceira década no cargo, que ocupava desde a fundação da escola. Um curioso costume seu era colecionar penas de pavão em vasos, exibidos na sua sala.

 

O corpo docente dessa época incluía a profª Regina, que dormia na parte de baixo do Prédio Azul; o prof. José; a profª Soninha, que tinha cabelos ruivos cortados em estilo chanel; a profª Cristine, de Português e Ciências, que tinha uns 20 e poucos anos, alta, de cabelos curtos loiros com um rabicho e que gostava de interpretar as personagens históricas — didática que inspirou a então aluna Vanessa Alves de Lima, aluna do Instituto entre 1990 e 1993 e hoje professora; a profª Laureci, de Matemática, que aparentava ter cerca de 35 anos e possuía cabelos lisos e castanhos; a profª Simone, de Desenho Geométrico e Geometria, loira, engraçada, e que costumava usar o uniforme da escola; o prof. Wassall, de Física, que era calvo, baixo, de olhos claros e bastante piadista, além de gostar de ensinar músicas de cursinho para os alunos; o casal de professores Valéria e Serginho, de Educação Física e Esporte, que moravam numa casa geminada na propriedade da escola; o prof. Eduardo “Vetor”, de Física e Matemática, alto, negro, com voz mais fina, que não costumava gritar e sorria quando estava irritado; a profª Vilma, de Geografia, História, Geografia, Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira), que usava batom vermelho ou rosa “choque” e costumava puxar o hino da escola após os alunos cantarem o Hino Nacional.

 

Havia também a profª Áudrea, de Biologia, que gostava de ditar a matéria para escrita no caderno, tinha cabelos ondulados castanhos e era estrábica, mas não usava óculos; a profª Magali, de História, que no início da década de 1990 viraria assistente da coordenadora pedagógica Rosely Lenci; a profª Lia, de Geografia, uma mulher baixa, com cabelos lisos em estilo chanel, que usava brincões nas orelhas, saia longa, tinha fama de ser “riponga” (hippie);  o prof. Carlos Lamachia, que às vezes assustava os alunos com gritos, e era ruivo, baixo, corpulento e também lecionava na Escola Técnica Federal; o prof. Oswaldo, de Física, que usava calça jeans e camisa social manga curta, tinha cabelos grisalhos e bigode escuro; o prof. Edvaldo, de Física II; a profª Hercimary, de Química, de cabelos castanhos, óculos e que dava aula na Universidade São Francisco, em Bragança Paulista; a profª Gisele, que tinha muitos filhos no IM, tinha cabelos bem curtos e ligeiramente enrolados, usava aparelho e era magra; a profª Tânia, de Matemática, que tinha um tique quando escrevia na lousa, era acima do peso, gentil e desenhava muito bem; e o prof. Vidal, de boas maneiras, um homem pardo, de altura mediana, óculos e cabelos pretos.

 

Já entre os funcionários, havia a Dona Raquel, que cuidava das meninas no internato, organizava, via roupa de cama, pijama etc; Rosely Lenci Araújo, coordenadora pedagógica; a Bete, da secretaria, que dormia no quarto da Raquel; a Dona Josefa, da lavanderia; a Dona Maria, cozinheira; o Geraldo, que limpava a piscina, um amor de pessoa; a Vilda, dos achados & perdidos lá na casinha verde; a Sueli e o Ricardo, da biblioteca; a Marilena Monteleone, que organizou a biblioteca; o Seu Orlando, motorista; o Seu Pedro, também; o Seu Dito, da portaria; e o sr. Luís, uma espécie de caseiro da escola.

Seu Orlando, antigo motorista do Instituto Mairiporã. Data desconhecida. — Foto: Juliana Wild.

O fim do internato

Durante a década de 1990, o sucesso financeiro da escola era tão expressivo que os professores e funcionários chegavam a ganhar 14º salário como bônus.

 

A mensalidade dos alunos pagantes crescia e a escola já não tinha mais como maioria dos alunos os filhos de operários das pedreiras. Estudaram lá, nos anos 1990 e na década seguinte, filhos de artistas e celebridades como Elis Regina, Zé Ramalho e Amelinha (que haviam sido casados), Dalvan, Maurício de Souza, Chrystian e Ralf, Milionário e José Rico e Débora Rodrigues.

 

Entretanto, alguns anos após esse auge, a situação do Instituto começaria a mudar.

 

Em junho de 1995, o então prefeito de Mairiporã Sarkis Tellian deu início à construção do Objetivo, um colégio particular no centro da cidade, onde antigamente havia uma fábrica de telhas. Inaugurado em 1996, o colégio “provocou uma perda de 15 a 20%” dos alunos do IM, conta Rosely, “mas não chegou a provocar impacto no financeiro”, e se juntaria à concorrência de colégios particulares da região.

 

Antes disso, e apesar do crescente número de externos da década, o internato já vinha sofrendo uma procura cada vez menor. A própria ideia de alunos morando numa escola já estava ficando antiga. “Quando eu fui pro ginásio [em 1993], quase não tinha gente no internato”, comenta Simone Alcalde, aluna do Instituto entre 1991 e 1999. “Os alunos internos tinham um certo rótulo de excluídos”, lembra Vanessa Alves. “Achavam que os pais largavam os filhos lá.”

 

O professor Zeca também conta que brigava muito pra defender os alunos do internato de preconceito. Se acontecia um problema, por exemplo, envolvendo um dos internos, logo se exclamava “Ah, tinha que ser aluno do internato!”. O professor então respondia “Não, é aluno do Instituto!”

 

Mas não tinha jeito, a batalha contra o tempo se imporia ao Instituto. Em 1996, o internato da escola foi oficialmente encerrado.

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